Estávamos em Cracóvia e de repente tivemos duas semanas livres para conhecer um sítio onde nunca tivéssemos estado antes. A Ucrânia e a Roménia pareceram-nos a solução lógica não só pela proximidade geográfica, o que nos permitiu fazer a viagem de carro mas também porque seria o sitio mais diferente dos países próximos à Polónia. Ponderamos a Bielorussia mas teríamos que esperar pelo visto e perderíamos alguns dias e pusemo-nos a caminho quase imediatamente.
A fronteira entre a Polónia e a Ucrânia não poderia ter sido mais aborrecida. Esperamos quase cinco horas numa fila de carros que parecia não se mover. Chegados ao posto até foi rápido. Carimbar o passaporte e entrar num país onde o alfabeto latino deixa de ter uso mas algumas pessoas falam polaco pelo que nos fomos conseguindo safar. Assim que começamos a penetrar no país fomos percebendo claramente o porque da maioria das pessoas desta parte ocidental do país quererem uma ligação mais estreita à Europa ocidental e à União Europeia. As estradas são miseráveis e esburacadas ao máximo. Buracos fundos que estragam qualquer amortecedor que os tente atravessar com alguma velocidade. Muitas carroças puxadas por cavalos e zero sinais de obras nas estradas. A Magda diz que a faz lembrar a Polónia há 15 ou 20 anos atrás. Velhos carros Lada por todo lado. Tive pela primeira vez desde que saí de Portugal a sensação de estávamos num sítio completamente diferente.
Fomos direitos a Lviv, cidade que fazia parte da Polónia até ao início da segunda guerra mundial e onde algumas pessoas ainda sabem falar Polaco. Lviv impressionou-me bastante pela positiva. O seu centro histórico muito bem conservado aliado à animação por todo lado nas ruas e praças centrais fizeram com que tivéssemos entrado na cidade de sorriso na cara.
Partimos de Lviv, passados dois dias, em direcção a Kamienetz-Podolski, a nossa próxima paragem. Se as estradas eram más entre a fronteira Polaco-Ucraniana e Lviv, de Lviv até Kamienetz-Podolski foi um pesadelo. Imagino que a velocidade média terá sido de 30km/h durante os 270km que separam as duas cidades. Fizemos uma breve paragem em Ternopil para ver o Komsomol Lake.
Quando chegamos a Kamianets-Podolski era já fim de tarde e estávamos sobre uma chuva intensa. Andamos um pouco perdidos à procura do nosso hostel. Não queria acreditar que tinha que descer aquela rua que me parecia intransitável a qualquer tipo de veículo, especialmente com a água da chuva que escorria por ela abaixo. Ao fim de alguma insistência lá o encontramos. Uma guest house familiar super amigável onde ninguém falava inglês mas todos fizeram um esforço extra para nos agradar.
Esta parte da Ucrânia é bastante plana. O que nos incomodou mais, a par da condição das estradas foi que estas não ofereciam vistas. Cada estrada tinha uma linha de árvores altas em cada lado então tudo o que se vê é estrada pela frente.
Imaginem a nossa surpresa quando de repente vemos um castelo de tamanho considerável enquanto entravamos em Kamianets. E depois uma ponte em pedra sobre um vale que dividia a cidade do castelo e rodeava toda a parte antiga. O rio que corre nesse vale cria uma espécie de desfiladeiro com vistas únicas das duas pontes em lados opostos que seguem para a parte antiga.
Kamianets-Podolski é uma cidade de tamanho mediano muito bonita e que vale a pena visitar se estiverem por estes lados. A sua atracção principal o castelo, é candidato a património da Unesco e é uma das sete maravilhas da Ucrânia.
Depois de duas noites saímos em direcção à Roménia. Pelo caminho paramos primeiro em Khotyn para visitar a fortaleza situada nas margens do rio Dniester. A fortaleza de Khotyn também é uma das 7 maravilhas da Ucrânia e a sua construção data de 1325. Dentro, entre outras coisas, pode visitar-se uma sala repleta de mecanismos de tortura medievais. Mais tarde paramos em Kolomyia , conhecida por ser casa do Pysanka Museum, ou o museu dos ovos da pascoa.
Em quase todos os postes de electricidade havia um ninho de cegonhas com pequenas aves à espera da comida. Se as estradas estão em regra geral em muito mau estado, as igrejas estão impecáveis. E são muitas. A cada 3 ou 4 quilómetros avistava-se uma igreja, geralmente com os seus telhados dourados e impecavelmente tratadas.
Estivemos apenas 5 dias e só na parte Oeste da Ucrânia mas ficou a vontade de conhecer o restante. Sem dúvida um país diferente e que vale a pena toda a atenção.
Renato